Rosimary Parra
Vihuela de mano
Há uma grande variedade de instrumentos de cordas dedilhadas anteriores ao nosso conhecido violão. Dentre estes encontramos a vihuela, de mano instrumento predominante na música ibérica do século XVI.
A vihuela foi utilizada principalmente na Espanha nos séculos XV e XVI e ficou conhecida também como viola na Itália e em Portugal. Originalmente a palavra viola foi aplicada para vários instrumentos de cordas de acordo com a forma de execução: vihuela de arco (tocada com arco), vihuela de pendola (tocada com uma pena, que servia como uma espécie de palheta ou plectro) e vihuela de mano (tocada com os dedos). No entanto durante o século XVI, normalmente, a denominação vihuela referia-se a vihuela de mano.
A vihuela tem semelhanças com o alaúde quanto à utilização de pares de cordas (ordens), trastes móveis e afinação, contudo diferencia-se por sua caixa de ressonância no formato de oito, característica da família das guitarras. A vihuela substituiu o alaúde na Península Ibérica e tornou-se tão importante no ambiente musical das cortes quanto o alaúde em outras partes da Europa.
Os livros de música para vihuela publicados no século XVI são referências importantes do desenvolvimento da música instrumental no período. Dentre as publicações estão: Libro de musica de vihuela de mano El Maestro (1536) de Luis de Milan; Los seys libros del Delphin (1538) de Luys de Narvaez, Tres libros de musica em cifras para vihuela (1546) de Alonso Mudarra, Silva de Sirenas (1547) de Enríquez de Valderrabano, Libro de música para vihuela (1552) de Diego Pisador, Libro de musica para vihuela intitulado Orphenica Lyra (1554) de Miguel de Fuenllana e El Parnaso (1576) de Esteban Daza.
Guitarra Barroca
A guitarra barroca descende da guitarra renascentista de 4 ou 5 ordens. Embora a guitarra renascentista tenha sido utilizada na Espanha, França, Itália e Inglaterra, sabemos que não obteve tanto destaque quanto o alaúde e a vihuela neste mesmo período.
As primeiras guitarras do século XV eram tocadas de maneira mais simples usando acordes rasgueados para acompanhar canções e bailes, enquanto a vihuela era utilizada nas cortes e palácios para tocar música mais elaborada.
No entanto a partir do século XVI quando a guitarra de 5 ordens começou a se impor na vida musical espanhola, o seu uso se estendeu também à aristocracia. Aos poucos a moda espanhola do rasgueado irá se difundir por outros círculos Europeus e, a partir do século XVII, a guitarra de 5 ordens terá grande êxito na França, Itália e Inglaterra. O instrumento de 5 ordens será conhecido na Europa como guitarra espanhola e, mais especificamente na Itália como “a la spagnola”.
O modelo de guitarra espanhola de 5 ordens que se estabeleceu ao final do século XVI tem como características: as dimensões um pouco maiores do que a guitarra renascentista de 4 ordens, o corpo do instrumento com cintura pouco pronunciada, uso de tastos móveis, cravelhame, roseta ornamentada e afinação la, re, sol, si e mi, sendo 4 ordens em pares e 1 corda simples.
A referência histórica para demarcação do momento em que a guitarra de 5 ordens se torna conhecida como guitarra espanhola é a publicação de Joan Carles Amat (1572-1642) com o título Guitarra española de 5 órdenes (1596). Este foi o primeiro tratado sobre este instrumento e tem principalmente instruções sobre o acompanhamento em estilo rasgueado.
Em princípios do século XVII a guitarra espanhola se tornará instrumento muito presente nos círculos musicais de toda a Europa. Tal difusão contribuiu para o desenvolvimento da técnica do instrumento. Dentre outros elementos, a mistura de rasgueados e punteados favoreceram o surgimento de obras com maior complexidade musical. Neste contexto destaca-se a obra de Gaspar Sanz (1640-1710) Instrucción de música sobre guitarra española (1674) e outas publicações como de Francisco Guerau e Santiago de Murcia.
Na França a guitarra barroca alcançou seu apogeu durante o reinado de Luis XIV. Em sua corte estiveram em serviço importantes guitarristas destacando-se a figura de Robert de Visée (c.1660-1720).
As últimas publicações de música para guitarra barroca são do início do século XVIII. Aos poucos o instrumento sairá de cena em função das novas demandas do ambiente musical em voga.
Referências bibliográficas:
ALTAMIRA, Ignacio Ramos. Historia de la guitarra y los guitarristas españoles. SanVicente (Alicante): Editorial Club Universitario, s/d.
GLISE, Anthony LeRoy. The Guitar in History and Performance Practice from 1400 to the 21st Century. A University Textbook for the Historical Study of the Guitar. USA 2016
POULTON, D. Vihuela. In: The New Grove Dictionary of Music and Musicians. London: Macmillan, 1980. v. 19.
GONZÁLES, Maria de la Paz Tenorio. Vicente Espinel Músico y poeta universal. Ronda (Málaga): Editorial La Serrania, 2016.