Por Rosimary Parra*
O alaúde europeu derivou do instrumento árabe conhecido por ‘al Ud’, que significa literalmente ‘a madeira’. As razões para tal nome remetem-se ao fato de que o instrumento possuía um tampo de madeira diferenciando-se, portanto, dos instrumentos construídos com pele esticada ou também por ser construído com tiras de madeira.
O alaúde árabe foi introduzido na Europa pelos mouros durante a conquista e ocupação da Península Ibérica (711-1492). Com as Cruzadas o instrumento difundiu-se pela Europa e aos poucos foi apresentando novas características em sua construção recebendo também nomes distintos em cada parte da Europa: laud na Espanha, alaúde em Portugal, lute na Inglaterra, luth na França, laute na Alemanha e liuto na Itália, deste último deriva também o termo liutaio que significa construtor de alaúdes.
As principais características do instrumento são: corpo abobadado, feito de um certo número de ripas separadas colocadas em conjunto; tampo ou caixa de ressonância plano contendo uma ou mais rosetas ornamentais; braço unido à escala com trastes móveis; cravelhame colocado aproximadamente em ângulo reto no qual as cravelhas são colocadas lateralmente e utilização de cordas de nylon ou tripa.
A família dos alaúdes possui cordas arranjadas em pares (ordens), sendo que inicialmente possuíam 4 ordens. Desde o princípio havia instrumentos de diferentes tamanhos o que implicava em diferentes afinações. Durante o século XV e XVI outras ordens (pares de cordas) foram acrescentadas ao instrumento, no final do Renascimento os alaúdes podiam apresentar até dez ordens.
O alaúde original era tocado com plectrum, uma espécie de palheta e, inicialmente, na Europa a mesma técnica foi utilizada. Portanto o alaúde foi primeiramente empregado como um instrumento melódico para tocar uma única linha melódica com, talvez, alguns acordes nas cadências e em outros pontos importantes, possibilitando as elaborações ornamentais. Durante a segunda metade do século XV, coincidindo com o advento da polifonia, o instrumento passou a ser tocado com a ponta dos dedos, o que tornou possível a execução de acordes bem como de peças polifônicas. No século XVI tornou-se o instrumento mais popular em toda Europa e era considerado ideal para o acompanhamento ao canto. A partir do século XVII, com a demanda do baixo contínuo, a família do alaúde expandiu-se e surgiram o arciliuto / archliute, o liuto attiorbato / theorbe lute, a tiorba / theorbe e o chitarrone.
Fonte: HARWOOD, I. A brief history of the lute. In: The Lute Society Booklets, n.1. London: The Lute Society, 1975.
Músicas constantes no vídeo:
1) Excerto de “Goe from my window” de Thomas Robinson (c. 1560-1610)
2) Balleto – Vicenzo Capirola (1474-1548)
*Rosimary Parra
Musicista integrante do conjunto Música Antiga da UFF – Universidade Federal Fluminense (RJ) na especialidade de cordas dedilhadas.
Bacharelado em Violão Clássico e Mestrado em Música pela UNESP.
Professora de violão clássico da Fundação das Artes de São Caetano do Sul (SP).
Em atuação, há mais de 25 anos, tem participado regularmente de programações musicais e culturais no Brasil e exterior. Apresenta-se como solista e camerista em diversas formações ao violão e com instrumentos antigos de cordas dedilhadas.
Realizou recitais solo em importantes programações do cenário cultural paulista: séries de Cordas de Dedilhadas do SESC Carmo (2013), Série Formas do violão do SESC Pinheiros (2014), Série de Cordas Dedilhadas do SESC Vila Mariana (2015), Festival Giacomo Bartoloni/UNESP (2017), Projeto “Prosa Musical” do Centro de Pesquisa e Formação do SESC (2018) e Festival de Cordas Antigas do SESC (2021).
Em sua trajetória realizou concertos em diversos estados brasileiros e nos países Portugal, Espanha e República Tcheca (Praga) por projetos de circulação musical. Mais recentemente, 2018-2019, esteve ministrando masterclasses na Espanha para alunos do Conservatório Superior de Música de Castilla la Mancha na cidade Albacete e no Conservatorio Profesional de Musica Manuel Quiroga na cidade de Pontevedra (Galícia).
Realizou diversos trabalhos em gravação de CDs sendo o mais recente o Álbum Las Brujas Música do Renascimento Ibérico (canto e cordas dedilhadas) (2020) pelo selo SerTao.