Instrumento: Matraca selvagem
Som: Entonação tímbrica
Fonte: ANUNCIAÇÃO, Luiz D’. Os instrumentos típicos brasileiros na obra de Villa-Lobos. Ed. bilíngue. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2006 – Áudio integrante do CD anexo ao livro.
Heitor Villa-Lobos denominou matraca selvagem o instrumento composto por dois bastões rítmicos, com diâmetro aproximado de 3 a 4 centímetros e com comprimento em torno de 55 a 75 centímetros; é importante frisar que estas medidas não são absolutas, podendo variar.
Esse instrumento que integra o acervo do Museu foi confeccionado em bambu, a partir da indicação de uma foto que consta no livro D’Anunciação (2006) e do áudio do instrumento que faz parte de um CD que acompanha a publicação.
Para tocar, o instrumentista deve percutir um bastão contra o outro para que seja produzido um som característico. O instrumento está presente nos Três Poemas Indígenas, na versão para coro misto e orquestra (Poema II, Teiru, solo em pianíssimo nos compassos 24,25 e 26).
O percussionista Luiz D’Anunciação (2006) discorre sobre as diferenças entre a matraca selvagem – assim nomeada por Villa-Lobos – e outros tipos de instrumentos chamados de matracas na cultura brasileira, importante distinção a ser feita para que sejam evitados equívocos em torno da escolha de Villa para a utilização da matraca selvagem em sua obra, que se deu no sentido de incluir uma sonoridade semelhante à produzida por instrumentos de origem indígena, que tem o bambu como matéria-prima frequente tanto para instrumentos musicais quanto para outros artefatos. O autor frisa que não há semelhança de sonoridade com a clave, instrumento composto por dois pequenos bastões de madeira com no máximo 5 cm de diâmetro e 20 cm de comprimento, que também são percutidos um contra o outro, mas que produzem um som alto e agudo. A clave integra a tradição afro-cubana do estilo musical chamado de “salsa”.
As matracas citadas por D’Anunciação (2006) são as seguintes:
Matraca de boi – Consiste em duas lâminas de madeira estreitas e retangulares que possuem tamanhos diversos – podendo chegar a medir um metro – que são percutidas uma contra a outra em movimentos característicos do estilo chamado “sotaque boi-de-matraca”, que alternam um leve “arrastar”, quando as peças de madeira são friccionadas, com batidas repetitivas. O instrumento faz parte da tradição dos folguedos do bumba-meu-boi de São Luiz do Maranhão, encontrados também no interior deste estado.
Matraca de procissão – Construída com uma pequena prancha de madeira retangular onde são fixadas argolas – ou material similar – de ferro em ambos os lados. A forma de tocar se dá com o movimento contínuo de vaivém produzido pela torção da mão de um lado para o outro, que faz com que as peças de metal se choquem contra as superfícies, gerando o som característico deste instrumento que integra as celebrações católicas apostólicas romanas da Semana Santa. As matracas de procissão são tocadas nos momentos dos cânticos pelos “coroinhas”, meninos e meninas que ajudam no serviço litúrgico da Missa, desde a Quinta-Feira Santa, na cerimônia chamada de “Lava pés” até a Sexta-Feira Santa à noite, na simbólica “Procissão do Enterro” (de Jesus Cristo) e durante as missas realizadas neste dia, no momento da consagração da hóstia e do vinho, substituindo os sinos, comumente tocados em celebrações alegres. A simbologia deste tipo de matraca está ligada ao sofrimento, ao flagelo e ao sacrifício de Jesus Cristo. Em contraposição a esta simbologia está a popularização do uso do instrumento nas praias cariocas pelos vendedores ambulantes de casquinha de biscoito e pirulitos, como chamariz de venda.
Matraca do Tambor de Crioula – Constitui-se de dois bastões de madeira que são tocados com a função de baquetas no fuste (corpo) do tambor grande ou “rufador”, que faz parte da parelha do batuque do Tambor de Crioula, tradição típica do Maranhão, uma forma de expressão de matriz afro-brasileira que envolve uma dança circular feminina, canto e percussão de tambores, registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio imaterial brasileiro, no ano de 2007.
DOSSIÊ 15, IPHAN, 2007