Apesar de seu principal instrumento ser o piano, quando em fins de 1967, Tom Jobim foi convidado a participar do especial A Man and His Music estrelado por Frank Sinatra para a rede de televisão NBC, foi empunhando um violão que o músico brasileiro revelou ao mundo a batida bossa-nova, desde então internacionalmente consagrada e identificada ao jeito brasileiro de acompanhamento musical. Foi de certa maneira, um reconhecimento ao violão, que já estava tão entranhado em nossa cultura, a ponto de ser desvelado pelas letras das canções, como o confidente, o amigo íntimo a quem o poeta se queixa dos desencontros do amor.
Desde sua chegada ao Brasil, em princípios do século XIX, o violão assumiu a função de principal acompanhador dos gêneros urbanos, sejam líricos ou satíricos. Esteve na base de acompanhamento de modinhas, lundus, cançonetas, choros, maxixes e sambas. Foi também para o violão que João Pernambuco, Canhoto, Garoto e Dilermando Reis dedicaram sua criação musical, um passo pioneiro e fundamental para a constituição do repertório popular solista. Fechando com chave de ouro o tripé da presença do instrumento na música urbana, Villa-Lobos dedicou ao violão uma produção que se firmou no repertório mundial como das mais significativas, especialmente por amalgamar diferentes paisagens sonoras numa colagem de influências do Brasil regional com o urbano, da tradição com a invenção.
Um aspecto curiosíssimo identificado à trajetória histórica do violão, desde seus mais remotos antepassados é a vitalidade com que o instrumento se renova e se reinventa. Quando chegou ao Brasil trazido pelas naus Portuguesas, era um instrumento de cordas duplas (chamado viola) e de pequeno porte. Passados três séculos, ganhou a forma de um oito, aumentou de tamanho passando a se chamar violão. As 10 cordas duplas deram lugar a 6 cordas simples. Hoje em dia os violões já têm 7, 8, 10, 11 cordas, seus tamanhos e formas são diversos, diferentes afinações ampliam a tessitura do instrumento e os detalhes de construção interna jamais chegaram a uma definição. Não menos vital é a busca por novos materiais e a ampla experimentação com madeiras de diversas procedências, pois ainda estamos à procura de maior volume e de novos timbres. Nada disso, no entanto, é recente. Como atesta este curioso exemplar de violão que está na coleção do Museu Virtual, as invenções neste campo foram e são sem limite: temos notícia de violão-harpa, violão de dois braços, violão-lira, violão-baixo, violão tenor, e tudo o mais que a criatividade permitir inventar. Essa riqueza material se revela na riqueza musical. A presença e importância do instrumento não se restringe à cultura brasileira, bastando apenas abrir um pequeno parêntesis para lembrar da estupenda variedade rítmica consagrada nos gêneros de latino América.
É possível, assim, pensar neste instrumento como presença fundamental no território brasileiro, como o responsável por veicular os mais distintos gêneros musicais, que de mão em mãos realizou verdadeiro exercício democrático não apenas pela pluralidade musical de sua atuação mas sobretudo por seu amplo alcance social.
O violão, desde que aqui chegou, difundiu-se pelos diferentes setores da sociedade brasileira demonstrando enorme potencialidade de realização e constituindo um legado de fundamental importância para todos aqueles que desejam conhecer e se aproximar de nossa cultura: assim o fez tendo as bases na canção e os caminhos na invenção moderna, ambos projetados no repertório contemporâneo.
VIOLA:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/o-som-do-brasil
http://seer.ufrgs.br/EmPauta/article/view/8530/0
CHORO:
http://historia-actual.org/Publicaciones/index.php/haol/article/viewFile/504/431