O piano é um instrumento musical de cordas percussivas, acionadas por um conjunto de teclas que operam um sistema de martelos. Para que o som seja produzido, cada tecla, ao ser tocada, aciona um único martelo, que percute as cordas esticadas e presas em uma estrutura feita de madeira ou metal. A vibração das cordas é interrompida por amortecedores quando as teclas são liberadas e pode ser regulada em comprimento de onda e volume por dois ou três pedais. A amplificação do som fica por conta da grande caixa de ressonância formada pela estrutura que compõe o móvel do instrumento.
A “alma” da sonoridade está na tábua harmônica, uma das partes acústicas fundamentais do piano, que é responsável pela transferência da energia vibratória das cordas para o ar, formando ondas sonoras de amplitude e potência bem maiores do que as que poderiam ser geradas somente pelas cordas. A qualidade do timbre de um piano é definida pela espécie e espessura da madeira utilizada na fabricação da tábua harmônica, e em sua perfeita fixação. Seu estado de conservação é outro item importante, visto que qualquer dano à sua estrutura irá incorrer na perda de qualidade da sonoridade do instrumento.
Este piano, integrante do acervo do Museu Villa-Lobos, é o modelo de nº 3 da renomada fábrica francesa Gaveau, construído em madeira escura, por volta do início da década de 1930. A princípio este exemplar foi catalogado pelo MVL com o registro de fabricação de nº 86794, em função da documentação existente no museu, que inclui uma carta de doação da segunda esposa de Heitor Villa-Lobos, Arminda, onde consta o referido número. Porém, durante uma recente restauração do instrumento, que ocorreu no início de 2020, foram descobertas duas inscrições com a numeração de série 86792 no interior do piano, o que suscitou a necessidade de pesquisas para corrigir a sua catalogação. Após a análise de um livro de registro da fábrica Gaveau, disponível em versão digitalizada no site do museu da Cité de la Musique (<https://archivesmusee.philharmoniedeparis.fr/Default/doc/SYRACUSE/161>), constatou-se que o piano 86792 foi comprado pela amiga e mecenas de Villa-Lobos, Olívia Guedes Penteado, em 17 de março de 1930, e que a compra do piano 86794 está em nome de Villa-Lobos, efetuada em 31 de agosto de 1936. Ainda não se sabe ao certo o motivo exato, de que maneira e quando o instrumento que se encontra em exposição no MVL passou a ser propriedade do compositor e posteriormente doado ao museu. Uma informação que pode dar uma pista, ainda que inconclusiva, é a de que entre 1927 e 1930, Villa-Lobos e sua primeira esposa Lucília residiam em Paris, cidade onde ficava localizada a fábrica Gaveau, e que eles retornaram ao Brasil no segundo semestre de 1930. Ou seja, na data da compra do piano 86792, em 17 de março de 1930, eles estavam em Paris.
A origem do instrumento remonta à Florença do final do século XVII, quando o primeiro piano foi criado pelo construtor de cravos italiano Bartolomeo Cristofori (1655-1731), que trabalhava na corte dos Médici, dinastia política que dominou a região por quase 300 anos, além de ter exercido forte influência sobre a Itália Renascentista no campo das artes e da arquitetura. A invenção de Cristofori marcou o início de uma longa trajetória de inovações e aperfeiçoamentos que incluíram mudanças e diversificações em sua forma, estrutura e mecânica, promovidas por construtores e músicos que, em parceria, trabalharam no desenvolvimento deste instrumento de suma importância para a história da música. Leia mais em: https://www.mvim.com.br/em-pauta/a-evolucao-do-piano/
RANDEL, 1996.
SITE MUSEUM GEELVINCK, 2021.
SITE FRITZ DOBBERT PIANOS, 2022.