O prato de louça (ou prato-e-faca) é um instrumento advindo de experiências do cotidiano, diferentemente dos instrumentos fabricados com a finalidade primordial de produzir sons entendidos como música. É considerado o idiofone mais característico do Samba de Roda do Recôncavo Baiano, que por sua vez é reconhecido como uma das matrizes do samba – nosso notório símbolo nacional –, e inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2004, como patrimônio imaterial da cultura brasileira.
O instrumento surgiu da relação das mulheres escravizadas com o mundo da cozinha, sua atividade de labor, que utilizavam utensílios para tirar algum som em seu dia-a-dia, já que os batuques eram proibidos para mulheres pelos escravizadores e capatazes. A tradição passou para suas descendentes, ao longo de gerações, e por esse motivo até hoje o prato-e-faca é tocado predominantemente por mulheres no âmbito da manifestação musical, coreográfica e poética que constitui o samba de roda, presente em todo o estado da Bahia, mas muito particularmente na região do Recôncavo Baiano. Duas mulheres referência nesse tipo de percussão são: Dona Zélia do Prato, nascida e criada em São Brás, distrito de Santo Amaro, BA, e Dona Edith do Prato, nascida em na cidade de Santo Amaro da Purificação em 1916 e falecida em Salvador em 2009.
O toque do prato-e-faca se expandiu para o samba de roda do Rio de Janeiro, onde também se estabeleceu como um instrumento característico dessa manifestação cultural tipicamente carioca.
Villa-Lobos incluiu o prato de louça em sua obra intitulada Noneto (1923), acrescentando ao modo de tocar tradicional a articulação percutida, no intuito de valorizar o modo de frasear a execução rítmica, como repetiu com o reco-reco em Momoprecoce (1929). O instrumento também pode ser encontrado na partitura de Mandu-çárárá (1940), a partir do compasso n. 26.