O violoncelo faz parte da família dos cordofones de arco, que inclui também o violino, a viola e o contrabaixo. Suas quatro cordas são afinadas em quintas em dó1, sol1, ré2, lá2, uma oitava abaixo da viola. O corpo de um violoncelo tem, em média, 74 a 76 cm e seu comprimento total gira em torno de 120 cm. Para tocar, o instrumentista posiciona o instrumento entre as pernas, com o peso apoiado no chão pelo espigão, e tange as cordas com o arco que é guiado pela mão direita, ao mesmo tempo em que os dedos da mão esquerda pressionam as cordas para obtenção das notas.
Há discrepâncias no estabelecimento das origens do violoncelo em função da terminologia diversa e de caráter regional utilizada para descrever uma série de cordofones de arco semelhantes, que proliferaram ao longo dos séculos XVI e XVII. Existem indícios de que o termo foi utilizado pela primeira vez pelo musicista italiano Giulio Cesare Arresti (1619-1701), em uma publicação datada de 1665. No início do século XVIII, o termo já era de uso frequente e na segunda metade desse século o instrumento teve grande penetração na maior parte da Europa. Ao longo do século XIX e no início do século XX, o violoncelo era empregado como instrumento solo, em quartetos e nas orquestras, embora funcionasse como baixo em conjuntos de câmara e orquestrais. Na contemporaneidade, o instrumento encontrou um lugar crescente em estilos musicais como o jazz e a música popular.
O violoncelo, integrante do acervo do Museu Villa-Lobos pertenceu a Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 5 de março de 1887 – Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1959). Villa começou a tocar o instrumento ainda muito novo, estimulado pelo pai, Raul Villa-Lobos, com quem teve as suas primeiras lições. Continuou estudando, porém sua maior experiência foi adquirida como autodidata. Começou sua carreira profissional tocando violoncelo em pequenas formações orquestrais como as da sala de espera do Cine Odeon e em bares e restaurantes, no início dos anos 1900. Apresentava-se frequentemente na Confeitaria Colombo e no restaurante Assírio do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Também tocou em lugares ditos “não muito bem frequentados”, como os bordéis, e em recitais realizados em teatros, clubs e ginásios em diversas cidades do Brasil. Para Villa-Lobos o instrumento era seu “ganha-pão”, o qual tocou profissionalmente até a década de 1930 (Pilger, 2012, p. 43). Pilger também afirma que não há registros de apresentações públicas de Villa-Lobos como violoncelista depois de 1932, no entanto sua obra foi influenciada por essa experiência até o fim de sua vida (2012, p. 54).
Algumas composições de Villa-Lobos para violoncelo:
- Concerto nº 1, para violoncelo e orquestra (1915)
- Fantasia, para violoncelo e orquestra (1945)
- O assobio a Jato, para flauta e violoncelo (1930)
- Trio para violino, viola e violoncelo (1945)
- Divagação, para violoncelo, piano e baixo tambor (adlib.) (1946)
- Fantasia Concertante, para 16 ou 32 violoncelos (1958)
- Berceuse, para violoncelo e piano (1915)
- Bachianas n.1, para orquestra de violoncelos (1930)
- Bachianas n.5, para canto e orquestra de violoncelos (1938/1945)
O violoncelo de Villa-Lobos foi fabricado no século XVIII pelo luthier Martin Diehl, e reflete claramente os ensinamentos de seu professor Nikolaus Döpfer (Füssen 1714 – Mainz 1788). Diehl construiu um violoncelo com dimensões reduzidas e com uma bombatura (formato da curva abaulada do tampo e do fundo) característica da Escola Tirolesa de Luteria.
“A escultura de tampo e fundo tem arcos bastante generosos que se elevam rapidamente a partir da sguscia da borda, como se encontra nos instrumentos mais típicos dessa escola. A caixa tem um aspecto de uma robustez bem peculiar que é ainda ressaltada pelo espaçamento de 10cm entre os furos superiores dos efes com um posicionamento bem vertical. A cabeça mostra a espiral da voluta e as formas da caixa de cravelhas que falam por si, nos remetendo imediatamente a instrumentos produzidos em Füssen e em diversas outras cidades próximas no que hoje conhecemos como Alemanha.” (LIMA, 2021)
BERKLEY et al, 2009.
PILGER, 2012.
PILGER, 2012.
RANDEL, 1996.
LIMA, 2021