Estudos sobre a sonoridade do violino
29.jan 2016

Álea de Almeida (2016)

 

O instrumento é composto por aproximadamente 70 peças. A caixa de ressonância, também chamada de corpo, tem a forma de “8”. A partir do corpo do instrumento projeta-se o braço que termina na voluta onde são presas as cordas do instrumento. A sonoridade do violino é obtida por meio do deslizamento suave de um arco sobre as cordas. As vibrações geradas são transmitidas através do cavalete para o tampo harmônico, em seguida através da alma para o fundo da caixa de ressonância e daí se projeta pelas duas aberturas sonoras em forma da letra “f”.

Violino modelo Jacobus Stainer (EM-UFRJ Museu Instrumental Delgado de Carvalho)

Violino modelo Jacobus Stainer (EM-UFRJ Museu Instrumental Delgado de Carvalho)

Voluta em formato de cabeça de leão

Voluta em formato
de cabeça de leão

 

Até o século XIX importantes modificações foram implementadas na estrutura do violino com a finalidade de aprimorar a qualidade do som. No século XIX, orquestras e salas de concerto exigem mais do potencial sonoro do instrumento e os luthiers do período aprimoraram ainda mais as técnicas de fabricação do instrumento.

Para entender a evolução da sonoridade do violino um grupo de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) analisou as particularidades nos violinos da Era Cremonese (região da Itália), ou seja, dos instrumentos construídos entre os séculos XVI a XVIII nas oficinas das famílias Amati, Stradivari, and Guarneri.

Os pesquisadores partiram de desenhos técnicos dos violinos da Era Cremonese, e também de Raios X e Tomografia Computadorizada dos instrumentos. Foram analisadas as medidas de centenas de violinos dessa época e foram comparadas as características dimensionais de cada um com sua ressonância acústica.

Os pesquisadores concluíram que uma característica muito importante na sonoridade do violino é o formato e o comprimento da abertura sonora do “f” de onde sai o ar. Quanto mais alongado, mais som o violino tende a produzir. E com essa forma mais alongada a abertura ocupa um espaço menor no tampo do violino produzindo um som mais completo e mais eficiente do que as aberturas arredondadas dos instrumentos medievais, como liras e rabecas.

 

As aberturas sonoras do violino e de seus antecessores do século X ao século XVIII. (Nicholas Makris/MIT/Reprodução)

As aberturas sonoras do violino e de seus antecessores do século X ao século XVIII. (Nicholas Makris/MIT/Reprodução)

 

Detalhe da Abertura Sonora

Detalhe da Abertura Sonora

O estudo dos pesquisadores do MIT aponta, além disso, que a espessura do fundo do instrumento também influencia o som. “Os violinos esculpidos em madeira são relativamente elásticos: quando o instrumento produz som, o corpo do violino pode responder às vibrações do ar, contraindo-se e expandindo-se minuciosamente”. E nesse quesito concluíram que o fundo mais grosso proporciona uma ampliação do som.

E os outros instrumentos como o violão, cavaquinho e bandolim porque não tiveram essa preocupação de ampliação do som.

Bruno Vaiano, da Revista Super Interessante, tem uma explicação de cunho social, para ele os “violinos eram instrumentos da elite cultural, usados em concertos para nobres e igrejas. Eles precisavam falar muito alto para alcançar o público em uma época em que não existia microfone nem caixa de som. Os que projetavam bem o som se tornavam valiosos. Violões e seus antepassados, por outro lado, sempre foram instrumentos do povo, de agricultores, operários e soldados, usados em rodinhas pequenas. Nada de grandes espetáculos. Por isso eles puderam ficar com o volume discreto que tem até hoje.

Porém hoje vemos que esses instrumentos de boca arredondada são muito utilizados em salas de concerto e em conjunto com outros instrumentos e sofrem por não ter um som tão potente, muitas vezes necessitando de amplificação.

Fica aqui a questão: será que nos violões, bandolins, cavaquinhos e outros instrumentos que tem a boca arredondada o alongamento da abertura sonora também ampliaria o som?

Referências:

Chu, Jennifer. Power efficiency in the violin: New study identifies key design features that boost violins’ acoustic power. MIT News Office. Publicado em 10 fev 2015. Disponível em: <http://news.mit.edu/2015/violin-acoustic-power-0210>.

Nia, H. T.; Jain, A. D.; Liu, Y.; Alam, M.-R.; Barnas, R.; Makris, N. C. The evolution of air resonance power efficiency in the violin and its ancestors. Disponível em: DOI link: <https://doi.org/10.1098/RSPA.2014.0905>. Publicado em: 3 ago. 2015.

Vaiano, Bruno. Por que o buraco do violino é fininho, e o do violão, redondo? E o que a seleção natural de Darwin tem a ver com isso. Porque sim: ela tem a ver. Disponível em: <https://super.abril.com.br/ciencia/por-que-o-buraco-do-violino-e-fininho-e-o-do-violao-redondo/>. Publicado em: 29 mar 2018.